Brincando com Drummond

Brincando com Drummond

Quando adoeci, um médico safado
desses que vivem matando gente
disse: Vai, Vicente, tá sem jeito na vida.
 
O homem espia a casa
e corre com medo da mulher.
A noite talvez fosse linda
não houvesse tantos ladrões.
 
Vivo levando pernadas:
pernas feias, sujas, empenadas.
Meu Deus, pra que tanta perna,
pergunta minha boca.
Porém, o meu coração
não pergunta nada.
 
O bigode na cara do homem
é engraçado, simples e fraco;
tem poucos, raros cabelos.
 
Mundo, caro mundo,
se eu me chamasse Aparecida
seria uma mancada,
não seria uma saída.
Mundo, caro mundo,
mais caro é o custo de vida.
 
Eu não queria dizer
(minha boca não queria)
mas essa fome,
mas essa crise
deixam a gente esmorecido como o diabo.

Poema da série 'Brincando com Drummond', publicado no livro 'Almanaque Poético de uma Cidade do Interior', de Vicente Freitas.
Vicente Freitas
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