Lábios de Mel

Lábios de Mel
 
Neste morticínio de Outono,
Cansado de folia e desgosto,
Jaz o triste poeta, em sono,
Ébrio dos frutos de Agosto,
Sonhando febril, em abandono,
Teus lábios de mel e mosto.
 
Teus lábios de ninfa, beijam
Os meus - toque de mariposa -
Esta flor inerte ao vento.
E meus lábios, os teus, desejam
Sentindo o hálito de esposa,
Sôfregos desse casamento.
 
E, num acordar doloroso,
Sem querer quebrar a
Minha boca, de tão sedenta,
Neste amplexo amoroso:
Corpos ardentes de paixão,
Te explora, desejo formoso!
 
Beijo tua face adorável,
Teus olhos fechados, carinho,
Teus seios rosados, doce sugar.
Beijo teu ventre a palpitar,
Teu velo, tacteio o caminho,
Num convite, meigo, afável.
 
Beijo as tuas pernas em arco
Que anseiam prender, em enlace,
Meu corpo no teu, em osmose,
De que me furto, tão parco,
Para que te cheire e abrace
Num ritual, dança, que te espose
 
Sobre ti, pétalas de rosa,
Lanço, e ébrio desses odores,
Te beijo, carícias ternas,
Renovo a junção amorosa
Enquanto esvais teus humores
Fonte de correntes eternas.
 
Nesta vida primaveril,
Renovado de prazer e cio,
Te afago o corpo fremindo.
Te penetro, suave e viril
Teu intimo, fundo macio,
Devagar, gozo, indo e vindo.
 
Neste ardor, dia de verão,
Teus prazeres, meu delírio,
Sonho nosso amor infindo...
Teu corpo tomado, vulcão,
Teu corpo , um campo de lírios,
Brotando vapores, se vindo...
 
E retomo teu corpo nu,
Num delicioso orgasmo
Tudo de mim, êxtase e linfa
Que se entranha, minha ninfa,
Nesse teu corpo, em espasmo
Teu corpo no meu, ou eu e tu.
 
Mas eu, mortalha de inverno,
Cinzenta, nublada, dura,
Perco-me no poeta, tremendo
chama eruptiva, inferno,
Estúpido, bruma escura,
Viela sinistra... Horrendo
 
João Loureiro

Lisboa

João Loureiro
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