Vou cantar
Versos tristes esta noite
Cantar o que vi
E o que não fui capaz de ver
Cantar as ruas, os bairros
Pisos e pisadas que nunca dei
E a tristeza será tema
Para essa melodia cansada
De olhos cansados e ego encolhido
De pingos de chuva, de raios de sol
De momentos perdidos e perdedores
Eis do que se trata essa canção
Das sinuosas ruas
Dos pedregulhos
Do vento que não chegou a tocar o rosto
Da lágrima que corre ardida
Entremeando os sulcos da face
Da boca fechada
Que declama poesias mudas
Para o nada.
Da praia vazia,
Da noite que segue fria...
Da palavra guardada
Da garganta seca
Dos sonhos que se perdem pelo caminho
De certos rumos incertos
Da falta de coragem,
Do pessimismo
Da comodidade hipócrita dos que fingem não ter opinião
Do beijo negado
Dos solitários
Que nos bares derramam suas mágoas
Do amor que sobrevive na escuridão
Versos tristes de tristezas
Feridas abertas que preenchem espaços
Lacunas que a felicidade, distraída, nos deixa.
Violões quietos chorarão essa canção
E velhos poetas a jogarão no mar...
Que se espalhem então suas cinzas!
Como a beleza mórbida de um dia cinzento
Tome conta das ondas, dos ventos
E dos corações que porventura nela mergulhem...

Carolina Teixeira Weber
© Todos os direitos reservados