A cada manhã chuvosa
Procuro teu rosto através da janela
Talvez refletido
Nos pingos d´água que molham o chão
Talvez perdido nas nuvens cinzentas
Que cobrem meu céu e o do sol.
Todas as manhãs
Como num ritual
Faço oferendas à ilusão
Deixo a nostalgia escorrer em meu rosto
E molhar meu peito em forma de lágrima
Soubesse eu lidar com a solidão desses dias escuros
Como minh´alma
Tão carentes de luz
Tão sozinhos
Dias em que nada interessa a ninguém
E até o rádio reclama palavras sem sentido
A cada manhã dessas
- Tão inchadas de vazio!
Pela janela sigo olhando
Sem piscar, com olhos imóveis que nada vêem
E ouvidos surdos
Imunes aos ruídos dos carros,
Aos passos apressados de trabalhadores cansados
Surda e cega a tudo permaneço
Não fosse esse ruído baixinho
Quase imperceptível em tantos momentos
Ruído calado e cruel
Que corta o céu e faz escorrer sangue pelo chão
Que me faz sorrir e me deprime
Ruído barulhento de chuva
Tão apropriado
Nessa primavera sem flores
Ou cores
Barulho que me enlouquece
Junto a essa batida seca
De meu coração sem sonhos...
Não fosse esse barulho
Que comigo acorda e adormece
Mais só estaria eu
E sem paisagem a minha janela.

Carolina Teixeira Weber
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