Um resto
indefeso
violado
molhado
marcado a ferros
Na boca um trapo
sufocando
gritos
constantes
Ódio fardado
bordunas
golpes de aço
Choques
nos dedos
nos testículos
no anus rompido
Honra e ossos
quebrados
Presente sem futuro
Herói sem história
Rins
alma
baço
mente
rasgados
perfurados
Capuz
bisturi gelado
silêncio
escuro afiado
afiando medos
Sofrimento extraído
espirrado
escorrendo esperanças
inocentes
distantes
Paralisado
urinou
gemeu
defecou
sangrou
implorou pela morte
Pausa
Parada súbita
Um grito carrasco:
"O merda ainda não assinou! Chama o doutor!"


“Senhor Deus dos desgraçados,
Dizei-me Vós, Senhor Deus,
Se é mentira, se é verdade,
Tanto horror perante os céus.”
(Castro Alves)

Nina Delfim