Appassionato melancólico

Num amplexo de posse nos atamos rítmicos
Iniciamos no inexorável tempo um adágio amoroso
Entregamo-nos íntimos aos sons inaudíveis mais genuínos
Quedamo-nos lascivos por um amor sustenido
compondo em appassionato um allegro magnífico
Muito além da carne nos sentimos
fomos almas rimando fragmentos de auras
com desejos e sentimentos
Harmonizamo-nos delirantes pelas linhas da pauta-vida
Mas da música executada ecoou um som seco e triste
Semifusas extremadas surgiram confusas
impondo à melodia uma difícil interpretação
Sincopados nos perdemos no compasso
Agora este som soluçante do bandoneón insistente
faz chorar a nossa letra cantada em lunfardo
O violino e o piano ao fundo já anunciam o pranto
Um breve gesto da vida mestra
parece querer encerrar a nossa partitura
A composição concluída só quer tocar as notas de repulsa
O amor perseguido por uma marcha fúnebre
num ímpeto malevolente se ressente
e em gestos insanos nos quer dizer adeus
Tanta sonoridade expressamos que não mais sei o que fomos
se um tango em adágio melancólico
se o allegro de uma sonata ou um fado dissonante


Nina Delfim