A gente nunca consegue ver o que realmente tem né? Muitas vezes o pouco da gente é muito para outros. E sempre foi assim pra mim, quando vivi por muito tempo num sítio, onde a maior riqueza era se alimentar bem e sem processos industriais. Não existia iFood na beira do canavial. Só o cheiro da cana queimada, flores, cantos de pássaros que me faziam viajar tanto. Mas viagens para fora deste lugar nunca foi uma coisa não tão fácil para mim. Sempre quis ver o mundo sem sair dele, mas não temos o que queremos sempre. A vida é pra quem tem e não pra quem quer, porque se fosse por querer, eu queria ver o mundo todo, ver o canto de outros pássaros que não só os de onde eu vim. Remonto com orgulho da minha terra, mas não posso esquecer que o mundo não é só ela. Vejo as pessoas viajando e conhecendo novos lugares sem ligarem para a real importância de se ter aquilo, aquela experiência. Nem todos conseguem ir à praia, mesmo morando à beira mar, nem todas pessoas conseguem entrar no barco que elas mesmas construíram. O que deixo é que entendam qual é realmente o ponto de se estar entrando nesta viagem de palavras: agradeça poder viajar e conhecer o mundo, pois o máximo que tive foi uma saída na praça e uma volta à praia. Conheça o que conseguir, mas nunca deixe de olhar e viver estes momentos como se fosse a melhor coisa do mundo, porque eles são. Hoje reflito que a única forma de ver novos lugares é a mudança. Para mim não há como ter dois lugares ao mesmo tempo, sempre é um só e só no atual, mas não que eu quisesse isso, eu só não posso. A vida não é justa com quem consegue ver o mundo mais colorido, ela só é a vida: simplesmente uma série de acontecimentos que geralmente não ajudam quem precisa de ajuda. Isso me faz me lembrar de quando As Meninas disseram “O rico cada vez fica mais rico / E o pobre cada vez fica mais pobre”. A maioria do tempo eu era este pobre, cuja única riqueza nunca lhe será tomada: a simplicidade das palavras, uma viagem que jamais será perdida.

Tiakuru
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