Eu estava em um jardim com mil flores
À esmo eu vagava, e junto ao meu andar
O vento floreava meus amores e dores
Não sabendo onde ir e sem saber parar.
E o som deu lugar à um súbito silêncio
Em uma intensidade, era tão incomum
Eu abracei abaixo este terreno imenso
Vazio de pétalas, de um jardim em jejum.
Minha vida tão otimista, agora sem brilho
Lastima sua dor transvertida de inocência
Meu sorriso pedante, hoje é o que mais humilho
Ao deitar neste solo em constante falência.
É triste olhar para tamanha tristeza
Onde o jardim dessas flores desalmadas
Só me fez notar, como afrouxei a firmeza
De um homem com rumo, e agora com nadas.
E que novas flores cresçam , assim eu quisera
Meus medos são menos do que pétalas mil
Que brotem da terra em qualquer primavera
Pois, o inverno que vivo começou em abril
E quem sabe depois, em um novo ornato
Eu seja um jardineiro um pouco mais alegre
Na tentativa e erro de um novo formato
Eu começo do zero. " Regue, regue e regue..."
Eis que, de nada adianta. O que acontece?
Não consigo entender, o inverno já acabou!
Será que este solo me roubou as preces?
Infectou-se de mim, e adubou a minha dor?
Sem chuvas, sem Sol, sem água e sem ar
Só o azar de um clima, cujo o úmido secou
Simbiose atípica? O jardim me chamou
E agora não sou mais o homem a vagar
Só o auge da primavera foi capaz de mostrar
Tamanha penitência é a do homem sem amor
Pois, quando olhei a terra que estava a regar,
Outrora macio, noutra hora meu devorador
Vida dupla, vida uma, sou o primeiro a chegar
Único e também último, este homem floricultor
Me enterrando e cavando, pra sempre sem parar
Na labuta infinda de fazer brotar meia-flor.
Releitura da primeira poesia que escrevi.
Publicado aqui mesmo, disponível para leitura na data 10/12/2004.Guarulhos/SP
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