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Em certo momento alguns anos atrás, após ter retornado aos meus estudos na universidade, ao qual cursava Ciências Jurídicas e Sociais, bacharelado em Direito, me deparei com muitas situações que modificaram a minha vida. Experiências de problemas de saúde seguido do retorno a faculdade, e tantas outras coisas e momentos que acabaram por cada dia mais me transformar na pessoa capaz que sou hoje, já no ano de 2014.
Neste mesmo momento mencionado no início, escrevi um texto que reportava a dor que eu sentia naquele caso específico ao qual vivenciei, porém sem conhecer os envolvidos pessoalmente. Era um dia de tempestade e eu morava em uma vila militar, chovia muito mesmo, e eu estudava para alguma matéria do respectivo semestre, quando de repente, após muita água rolar, ventos que pareciam revoltados e uma visibilidade quase zero, um caos tomou conta de toda a vila militar.
Um homem, que trabalhava em seu expediente cortava galhos de uma árvore que havia caído em uma das casas com a forte chuva quando, com a dificuldade que era se manter com uma motosserra sobre um galho, este se desequilibra e solta a máquina no intuito de não se machucar e como de forma planejada para aquele momento, doloroso demais para qualquer pessoa normal e com sentimentos, mesmo que desconhecidos, aquele homem caiu no chão sobre a motosserra que continuava ligada, vindo a falecer por motivos óbvios.
Me lembro como se fosse hoje, o tempo parou, a chuva parou, o vento parou, as pessoas pararam, o serviço parou, como se o mundo inteiro tivesse parado naquele instante, naquela triste fatalidade. E ao homem ali no chão, nada mais podia se fazer. Foi muito interessante pois eu estava com a perna quebrada e nada podia fazer senão sofrer solidariamente àquele fato que transtornara todos que moravam ali, restando somente os comentários do que seria o velório e o enterro do homem que perdeu a vida cumprindo seu trabalho.
A única coisa que consegui fazer foi escrever um texto, expressando tudo aquilo que sentia sobre a vida e sobre aquela dor que nem mesmo eu sabia explicar de como tudo podia se desfazer a qualquer instante sem que tivéssemos força ou controle sobre aquilo. Fiquei extremamente feliz ao saber que passado algum tempo daquela tragédia, meu texto que havia publicado em um site de mensagens virtuais, acabou sendo escolhido para fazer parte de um livro de homenagens de um Lions Clube de uma cidade no interior de SP, cidade essa chamada Brodowski, onde estes, homenageavam um casal recém falecidos e que foram de extrema importância para a formação e continuidade dessa história, tão longe da minha vida e da minha história.
Recebi uma cópia em casa, e me senti muito honrada de poder fazer parte do momento que não era e que passou a fazer parte de mim, pois eram as minhas palavras e meus sentimentos na vida de outras pessoas e isso era maravilhoso e muito gratificante. É uma jornada interessante essa vida, onde tudo e todos são interligados de alguma maneira e de tal forma que em dado momento da nossa caminhada solitária, podemos sem querer ou planejar nos tornarmos parte da vida de outras pessoas e acrescentar a história delas um pouco de cada um de nós, e isso me deixa feliz de poder acordar cada dia e ver que posso continuar aqui dando um pouco de mim para quem se interesse, meu conhecimento adquirido dia a dia, se tornando útil e o ciclo continuando, as pessoas nascendo, vivendo e partindo, partilhando um pouco dos momentos dos outros, como se todos fôssemos um só.
Esse é um bom jeito de dar as boas-vindas à vocês que me convidaram a fazer parte desta conexão de cabeças e conhecimentos, e dizer que mais uma vez histórias e momentos se conectam, se ligam e se unem confirmando a minha ideia de que podemos ser cada um, uma pessoa diferente, mas que sempre podemos tocar o outro com uma ideia afim.
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