Da Louvação da Menina dos Olhos do poeta
Parágrafo 1º
Da boca da menina dos olhos do poeta
A boca da menina
não fala, se insinua,
fica aberta como mina
de onde a prata, semicrua,
lava quente de vulcão,
movimenta a paixão do poeta
e este decreto não veta
qualquer tipo de emoção.
Parágrafo 2º
Do nariz da menina dos olhos do poeta
O poeta beija o nariz da menina
(nariz que não é lindo
mas que possui o erguimento
necessário à sublimação
decantada pelo poeta)
e levita, como se houvesse
comido Halls Mentho-Lyptus.
O nariz da menina
tem sabor de hortelã.
Parágrafo 3º
Dos olhos da menina dos olhos do poeta
Não, não se parecem com estrelinhas
nem são gotejos do mar.
Não são verdes. Não são azuis.
São de um castanho bem comum.
Os olhos da menina são firmes.
Esta menina
que é poesia
em carne e osso,
olhos e cabelos,
pele e corpo,
boca e nariz.
Ah, o olhar da menina...
Joga-o para o poeta
como que ordenando:
- Ama-me!
(imperativo irresistível...)
Parágrafo 4º
Do corpo da menina dos olhos do poeta
A menina tem o corpo em "s"
feito cobra.
A menina tem um corpo puro.
Mas não é pura.
A menina já amou.
Mas isso não importa.
A menina agora ama o poeta.
Parágrafo último
O poeta,
considerando os parágrafos anteriores,
decreta:
"À menina dos olhos do poeta
é concedido o direito de ser
senhora incontestável e única
da cabeça do poeta."
(1986, Prêmio Gregório de Matos))
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