De forma abstrata te possuo,
Pois materialmente és alegoria,
Então inscrevo-te em meu senso
Para que teus adereços me consumam
E em ti eu não seja mais utopia,
Mas o viço que me entorpece a vida.
 
Estás no patamar mais alto da imaginação
E eu teus sonhos navego ilhado
Pelos desejos que me assaltam
Desde o meu tombadilho até a tez
Nacarada por tua voz longínqua.
 
Vejo-me seduzido por uma abstração
Desenhada à mercê da criatividade
E de uma inconsciência que é o extrato
Das reflexões ultra sensoriais do cérebro
Conduzido a imaginar-te obcecada
Pelos desmandos de um tesão alcatifado.
 
Dentro das minhas fantasias surreais
Há um espelho de faces côncavas
Onde teu retrato é minha audaciosa fotografia
E daí retiro todos os átomos que me causam
A combustão de um prazer iníquo,
Porém sensivelmente adocicado pelo éter da paixão.
 
Sensibilidade edificada mediante ardente desejo
De ter-te e possuir-te sem meneios, mas com excitação
Suficientemente capaz de provar-te o ego emergente com ardor.
Meu coração chicoteia meio convexo e teu nome é inspiração
Que abrasa as tetas dum amor transformado em alucinação...
 
Portanto, és alucinação... Iconoclastia de minha febre de amar
E de ser amado por um corpo primaveril pleno de flores
E de um mel meio azedo e amargo, todavia táctil e sublime...
És uma ousadia fomentada pelas caricaturas de um âmago
Tão solitário e triste quanto a morte que nos abandona no sepulcro!
 
 
 

 
DE  Ivan de Oliveira Melo’

Ivan de Oliveira Melo
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