Estrela da Manhã (admiração)

Quando chega o alvorecer, brilha meus olhos quando escuto do meu quarto o leve tocar da vassoura de palha roçando o chão do jardim de nossa casa.
Dona do meu coração, ela já se pôs a recolher as folhas secas que caem das arvores que abrigam nosso jardim.
Pela veneziana da janela eu me coloco a admirar àquela mulher, de gesto tão simples e um olhar orgulhoso para tudo aquilo que ela pode construir.
Admirado eu fico e com o olhar fixo, paralisado pela luz que a envolve.
É minha Mãe que antes dos primeiros raios de sol, já se põe a cultivar suas margaridas, flores que enfeitam nossos corações ansiosos por aventura.
O que passa por sua mente naquele instante?
Seu coração abriga somente amor e com seu olhar distante, tudo o que ela vê são relíquias, maravilhas de seu cultivo.
Embora ela não me veja enquanto eu a observo sinto que ela pensa em mim, ou melhor, em cada um de nós ela está pensando. Eu me calo olhando aquele momento de pura solidão e alegria. Momento de reflexão.
Que criatura tão bela, tão meiga, que o tempo levou, mas que a fotografia daquele momento não abandonou meu pensamento.
Maneira simples de viver, que não podemos explicar com palavras, são momentos eternos na vida de uma pessoa.
Ah!
Meu coração se inflama de dor e prazer, o que o bandido tempo não ousou furtar, lembranças de um momento impar.  
É um singelo instante, em que, um pequeno príncipe pode admirar calado feito um soldado em sentinela, olhando pela fresta de uma janela o amanhecer de um novo dia da Jardineira do amor, que cultivava naquele pedaço de chão o mais puro sentimento.

 
Assim o tempo se foi e nossa estrela da manhã partiu, mas permanece quebrando os raios de sol, florindo nossos corações com suas sutilezas superiores a tortura da dor de sua ausência. 

Chico Marques
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