Aclaração:
Antes de começar o escrito devo um pedido de desculpas a Dom Álvaro de Campos, do qual tomei emprestada a idéia do título e da prosa devido ao mal estado em que meu coração se encontra neste momento, e a sua própria ausência física deste mundo. Sei, que estiver onde estiver, saberá perdoar-me, principalmente por tratar-se a reta dele, de uma curva com ponto de aplicação no infinito, por tanto não faz diferença, e seu poema -o mesmo que o meu-, fará parte do inconsciente coletivo da humanidade num futuro próximo, onde não mais estaremos por aqui.
Euquirne Rotceh - 2005
Poema em Linha Curva
Como dizer agora que eu também levei porrada, ...e ainda levo!
E meus conhecidos que dizem que tudo passa, que é uma fase,
que é assim mesmo,
sem eles próprios terem vivido a amargura da perda e da separação.
E eu dolorido, tendo enxugado tantas vezes as secas lágrimas
do amor e da paixão,
muitas vezes postergadas pela vida atribulada do vir-a-ser.
E eu sujo, indesculpável e mentalmente sujo
pela falta de haver declarado meu amor aos quatro ventos,
não uma mas mil vezes, dez mil ou eternamente,
eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
por não ter dito e proclamado e declarado meu apego...
e que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda
por dizer coisas que feriram, que magoaram, que doeram.
Eu, que tenho feito vergonhas amorosas, tomadas emprestadas sem pagar,
nem sequer devolver, e nem satisfação dar.
Eu, que, quando a hora da dor surgiu, tenho me agachado
para fora da possibilidade da dor, por covardia,
que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
mas não por isto menos importantes, como a solidão da ausência,
que sei e que entendo necessária mas não a aceito,
porque não tem nada a ver com o resto da história, com a vida.
Toda o mundo que eu conheço e que fala comigo, e me aconselha,
nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu a dor, a angústia, a miséria,
nunca passou por nada semelhante, ...e se passou, já está superado!
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
que confessasse não uma iniqüidade, mas uma dor, uma perda,
alguém que lamentasse a solidão, alguém no desespero.
Não, são todos o Ideal. Quem há neste largo mundo que me confesse
que alguma vez sofreu de amores?
Também estou farto de semideuses! Onde é que há gente normal neste mundo?
Será possível que não os haja e que devamos criá-los?
O! Álvaro, me ajuda; encontra para mim os homens,
tu que foste vil, literalmente vil,
vil no sentido mesquinho e infame da vileza,
ajuda-me a encontrar quem tenha sofrido de amores
e que seja humanamente humano, como nós.
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