Aprecio os meus dias de ócio, tão vulgares.
É como se fosse uma transgressão daquilo que, ao menos , finjo ser.
Fico submersa em mim mesma, um isolamento emergencial e tão necessário quanto a rotina entediante a que somos obrigados para o próprio sustento.
Reflito sobre a possibilidade de algum transtorno desconhecido que a minha psique possa renegar. Uma infinidade de possibilidades hipotéticas de alguma desordem que a ninguém incomoda, senão a mim mesma de vez em nunca.
A minha ironia é o incômodo mais precioso, o meu esteio nesses dias de fragilidade plena.
O telefone toca e o som me irrita profundamente.
O meu cansaço se traduz nas teclas e nos chamados.
Prefiro a solidão silenciosa ou a companhia de um bom livro.
Os livros são os amigos mais presentes em momentos assim.
A minha compulsão é estar só, a liberdade da cegueira social e dos padrões estabelecidos.
Adeus às regras !
Sou a dona do meu espaço , o vasto mundo das emoções desequilibradas e incontidas.
Não me atrevo sequer a pentear os cabelos, usar o batom vermelho de sempre ou a transbordar alegrias.
Sou fruto da minha originalidade extrema e também dos excessos.
A ociosidade é um processo de cura incompreendido
Uma escolha terapêutica intimista com uma capacidade ímpar para assimilar as perdas ,os danos, o cotidiano.
A vida exige o perdão pela falta cronológica do tempo,
porque sempre nos resta menos a cada segundo que ele se arrasta.
Aliás , o relógio não para nunca.
Eu sim em dias assim.
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