A morte do cisne

 Em um lindo lago, o último suspiro de vida.
Na contemplação de uma imensa lua, o ofuscar da vida.
Em movimentos metricamente coordenados, a exaltação do fim.
A cada performance, uma lágrima abrolhava dos meus olhos.
Parecia um anjo, um deus, uma luz que irradiava na magnitude da vida.
A arte gritava em seus delineados e compassados gestos.
Quanta emoção, quanta reação, quanto amor...
Luz, sinergia, o fluxo vital, a irreflexão da vida.
Uma lira imortalizada.
Um poema divinamente consumado.
A exclamação da existência!
A ressonância dos ecos da morte.
Um bucólico e abstruso crepúsculo.
O lago ganha vida, e a vida se esvai, das entranhas daquele majestoso cisne.
A canção "The swan" promove a valsa da morte.
A luz é corroída pelas trevas.
A dor dilacera a alma, que enfadada pela solidão se nutre de compaixão.
As flores, a lua, as estrelas e o céu negro emanavam energias salutares.
É tarde demais, o fim foi proclamado...
Em prantos a natureza desmaia.
O desespero sucumbe à flamejante lua.
O céu negro ampara as estrelas.
As flores desfalecem.
Os peixes nadam desordenadamente.
As aves promovem a revoada.
O lago se agita.
Em luto, o mundo abraça o todo que circunda o lago.
O lago é privilegiado e imortaliza a vida e a morte do esplêndido cisne.
Um bailarino que se fundiu com sua arte.
Uma arte pragmatizada em seus últimos movimentos de agradecimento à vida.
No fundo do lago, os restos mortais de um artista que nunca se esvai.

Dhiogo J. Caetano
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