"A tensão contaminou o ar. Meus olhos doíam por causa da luz artificial. Eu estava sentada no chão sujo enquanto observava as árvores dançarem ao meu lado. O vento soprava quase que me abraçando por completo. Minha mente se encontrava em colapso, algo nunca antes registrado. Meus 5 sentidos estavam aguçados e meu corpo físico se apresentava entregue ao precipício. Um precipício falante, hipnotizante, portador de toque suave e viciante. Ele me observava de modo contínuo, apenas mudava a direção do olhar para disfarçar ou quem sabe para não deixar tão óbvio. De tempos em tempos se aproximava mais e mais, e de imediato meu corpo se preparava, se transformava em cinzas. Aquelas unhas grandes percorriam cada caminho das minhas veias. Meu pescoço, pronto para sentir dentes esfomeados. Meus dedos, meus pulsos, meus braços: todos congelados e ao mesmo tempo macios, sentindo cada centímetro ser percorrido por garras delicadas e fortes.
Em meio ao mundo particular que nascia, havia sede. Uma sede que se espreitava aos olhos das mentes de cada um. Uma sede descomunal, descontrolada, rendida, pronta para ser saciada. Havia cheiro de morte e desejo. Sonho e loucura. Um pouco de receio e desconfiança. Uma mistura inédita de sentimentos, emoções e pensamentos se fez presente. Por muito tempo. Tempo antes nunca presenciado. Aquilo poderia chamar de amor? Um amor não convencional. O que poderia ser? O grotesco e o sutil se misturavam como pétalas de cerejeiras e petróleo em pleno vôo. Tais acontecimentos não poderiam ser banais. Jamais entrariam no mundo da futilidade imediatista. Era algo mais. Parecia ser algo mais.
Tabus dos mais simples aos mais complexos foram remexidos dentro de mim. Meus pensamentos e crenças foram abalados" [...]
© Todos os direitos reservados