quero morrer, não uma morte definitiva, impessoal, não
uma morte infinitesimal ao abismo de minha dor lancinante
petrificante e pútrea, uma morte insigne, sim, total, absoluta
uma morte que seja ínfima mas grandiosa e eloqüente
como um toque de machado pelo fio de minhas impregnações fúteis
como uma torrente de meu sangue derramado sobre dolos, culpas, crimes
sobre os acossados e destemperados inimigos dentro de mim
o meu cajado se quebrou e se agigantou um fardo por todos os sempres
a minha vitória cambaleante se encarrega de ser minha algoz e alcoviteira
sou meu primata primevo pustulento e febril se desdobrando em evoluções
estou aprisionado em minhas visões apocalípticas de um aprazível pesadelo
a morte tem as ferramentas certas para me dar calor e esperanças
a morte vem cavalgando a dor em caminhos de pedras atormentadas
trituradas pelos vermes, consumidas e regurgitadas pelos vermes
eu estou entre os vermes de minhas alucinações mais magníficas
eu sou o verme sanguessuga de mim apodrecendo o meu viver em espirais
me trago a última gota em tons de verde e pedras preciosas
me alimento de meu sangue contaminado de meu morrer
que eu quero somente agora nesta poesia rasgada
como minha pele em camadas e escamadas
para suavemente deitar o sono inconcebível
de já estar morto e depois
ser feliz

Poesia escrita em 5 de novembro de 2003 – quarta-feira.

Fortaleza, Ceará

Carlinhos Pink
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