AUTO RETRATO

Sou a lágrima furtiva,

o engano em forma de vida.

Da fotografia, sou o negativo,

na natureza, sou o desvio.

Não sou sombra,

sequer o abrigo.

Do destro, sou a mão esquerda;

na companhia, sou a ausência.

Das palavras, sou o silêncio.

Sou o ápice da dor.

Sou o espinho que feriu

em forma de coroa, o Criador.

Sou a mãe que não vingou.

 

Borboleta sem cor,

perdida num mundo

imundo de Amor?

 

Sou a obra inacabada

de Mondrian.

Sou o que ele não acabou.

 

 

Mirzem
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