Lá fora me chama o tempo
e incansável, meu nome proclama
ecoando nas marolas do vento,
ora brando, ora turbulento.
Aqui dentro, mundo imaginário,
eu me retranco.
Burlo as leis do calendário,
horas, dias, meses e anos
e deixo o tempo ir, sem resposta,
sem realizar o que mais gosta.
Retiro as travas da alma,
libero o que me acalma
emoções sinceras e retidas
que em catarse se manifestam
contra as opressões da vida.
Abro uma janela no peito,
meio que sem jeito, exangue,
e a luz, antes como um bumerangue,
penetra agora interior adentro
reacendendo minha existência,
meu pensamento, minha essência.
Revela o amor adormecido
na invisibilidade da abstração,
entre as metáforas, escondido,
nos textos mudos e não ditos,
nas entrelinhas da composição.
Ah, tempo, passe a contento,
não mais importa que me chame o vento,
pois no mundo em que me adentro
a poesia rompe ao romper o dia,
o amor é amor de fato, é nato
e a fantasia se tornou real.
_Carmen Lúcia_
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