MISÉRIA, POESIA E TRISTEZA

 Um sujeito: maltrapilho; sujo e sem a maioria dos dentes da frente, ficava a pedir esmolas em frente à casa de seu Manoel. Sua esposa, já bastante chateada com aquilo, vivia a reclamar:
- O Manel você tem que tomar uma providência...esse cara fedorento em frente à nossa casa fica deixando restos de comida no chão, qualquer dia vai ficar cheio de ratos por aqui.
- Calma, Mulher! Vou falar com ele.
Então, seu Manoel saiu para conversar com homem. Chegando ao local encontrou-o lendo um velho livro de poesias, e disse:
- Moço...o senhor pode sair de frente da minha casa? Está muito sujo e já estamos sentindo esse cheiro lá dentro.
Então o homem, falou:

- Meu caro, amigo!
Estou ao relento,
porque ninguém me dá: abrigo,
ajuda e sustento.

- Porque o senhor não procura um albergue? Na minha porta é que não pode  ficar...

- Estou aqui por uma causa nobre,
por isso não me esnobe,
eu só trago o amor,
meu bom senhor.

- Que amor?  Você está me atrapalhando!

- Atrapalhando!?
 Eu só estou explanando
a minha situação
sem abstenção.

- Logo vi...o senhor não é dessa cidade, né? 


- Eu vim lá do sertão,

do sertão do Maranhão,

lá não tinha nem calçado,

mas esse era o meu fado,

ficar de pé no chão.


Até o pão faltava,

meu filho então chorava,

tamanha necessidade

vivíamos de caridade.

Foi aí que meu pai me disse:

- Deixe de tolice,

vá outra cidade procurar,

um emprego e casa pra morar.


O senhor Manoel já estava ficando comovido com aquela situação, então exclamou mais uma vez:
- O senhor não sabe, que chegar a uma cidade grande, sem ter ninguém da família para ajudá-lo fica muito difícil? E o que tens feito depois que chegou, já conseguiu emprego alguma vez, onde está seu filho?


- Cheguei à grande cidade

sem saber o que fazer,

mas a minha realidade,

é não ter o que comer.

Durmo ao relento,

procuro meu sustento,

pedindo esmola,

mas o que me consola

é o pensamento,

de saber que meu filho

não é mais maltrapilho

e com uma rica família ele está...


- Ué...mas ele encontra-se, aqui nessa cidade? Perguntou Sr. Manoel.

- Sim, e sei que está muito bem,

por isso não vou mais além,

me abrigarei na igreja,

porque não quero, que assim ele me veja.

Então, sairei de frente da casa dele,

também agradeço-lhe muito o que faz por ele...

                           &

Meu Deus!!!

O senhor é o genitor do meu filho?!

Entre... não haverá empecilho,

não irei desprezá-lo,

só quero abrigá-lo,

e lhe dar um pouco de conforto,

porque nosso filho está morto.

Fiz o que pude,

mas ele não tinha saúde

e hoje encontra-se no céu...

 

Alexandre M de Brito
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