GUARDA... EU AINDA VOU BUSCAR

 

GUARDA... EU AINDA VOU BUSCAR 

Guarda todas as cartas,
que pensou em responder.
Tal qual os fuzileiros faziam
uma a uma envoltas em fitas.

Rascunhadas, rabiscadas à pena,
soterradas em jarros de barro.
Um dia quando eu for livre
vou saber se fui correspondida.

Guarda-as todas enumeradas
com datas delineadas,
como novela de folhetim
lacradas com cera perfumada.

Quando chegarmos no futuro,
nao haverá muito a trabalhar,
nem um pouco para sonhar.
Restará apenas ler e divagar.

Deixe as missivas na mesa,
no canto onde se deitas
para que eu logo reconheça
sua letra no remetente.

Fale-me que não fui casual
que fugiu por medo de amar
quem te amou loucamente
desistida de apenas sonhar.

Conte me tudo, da saudade
que doia em você dia a dia.
Do tormento de não ser meu
e de não ter me pertencido.

Reclame da chuva que perdemos
dos dias de sol que não vivemos,
dos campos que não visitamos e
da alegria que não conhecemos.

Guarda todas as cartas minhas
e não as deslize na gaveta,
alegando ser tarde demais.
Guarda, eu ainda vou buscar.

railda masson
© Todos os direitos reservados