O melhor de mim

 
 
 
Retiro do íntimo a dança e o melhor de mim.
Sinto-me mutilada, metade de nada.
Tanto tempo entranhada, enraizada,
se fez coração, oração, corpo, alma, paixão.
Por que mantê-la guardada agora?
Deixe que se extravase pela vida afora.
 
Já não rodopio, me perco nas voltas,
 nas pontas dos dedos não me fio,
devagar  conduzo meus passos, a revel,
onde, outrora, preenchia os espaços
levitando em giros, alcançando o céu...
 
Ouço a melodia que minha essência cria
e a alma dança, sem técnica, em harmonia,
livre como  ave em busca de seu reino
na mais perfeita coreografia,
 sem qualquer treino.
 
Descreve nas nuvens versos e rimas,
na dança se integram poesia e bailarina
que me levam, leve como a brisa,
a imaginar que lá estou eu
num acervo imaginário de arabesques,
pas de deux , sapatilhas, dedicação,
viravoltas, definição, perfeição,
cenário sublime que se torna eterno
aos meus olhos turvos pela emoção.
 
 
_Carmen Lúcia_