Escassez e excesso

Há aqui no sul do hemisfério sul
de quase tudo uma escassez
de quase tudo um excesso.

O chão já não há debaixo de meus pés
sobre minha cabeça desabou o céu
justo agora que perdi a fé
nestes lugares do além.

Feito moenda, a solidão dissolve o prazer
e, meus olhos para essa tela opaca, impele;
a falta de tudo vivido entre mim e você
a ausência do cheiro e suor de sua pele.

A vida feita refém de uma rotina insossa
até os segundos parecem ser eternos
e a inanição sufoca a dádiva pela boca
da distância, que tornou os planos meros.

Justo agora que a escassez assoma
vejo meus sonhos circundados
por um excesso de redomas,
logo os sonhos mais belos e adornados.

Exposto o corpo, feito papagaio, raia, pipa,
vagueia consoante o ser e suas vicissitudes
enquanto o sentimento tange amiúde
a paisagem inconstante da vida.