O FIM DA PATUSCADA

 
A festa costumeira do Arraiá
Lá na casa do seu Chico
Tinha tudo pra ser boa
Pois para molhar o terreiro
Veio até uma garoa
 
Tinha um bom sanfoneiro
D. Toinha cantava
Era um fole puxado
E um pandeiro arrojado
Que dava vida ao xaxado
 
Foi boa a batucada
O povo todo dançava
Até começar a briga
Do seu Mané da bodega
Que puxava uma cantiga
 
Mataram porco e carneiro
As panelas estavam cheias
Num balaio havia pratos
Ninguém comeu nada disto
Com a briga destes chatos
 
As panelas eram de barro
E tiraram da fornalha
Botaram em cima da banca
E quando eles se pegaram
Não restou se quer a tampa
 
Nisto o chão ficou repleto
De tudo que tinha dentro
Carne arroz, sopa e feijão
O caldo corria as bicas
Misturando tudo ao chão
 
O povo todo correu
Num alvoroço danado
As moças dentro dum quarto
Tremendo igual vara verde
Ouvindo ‘vem que te mato’!
 
Chega o Zé do pé de serra
Bate aqui bate acolá
Procurando se esconder
Corre pra lá e pra cá
Sem ninguém lhe socorrer
 
Já estava baleado
Bem perto do coração
Ali o sangue corria
Parece que ninguém via
Sua triste situação
 
Até que seu Bonaparte
Resolveu tudo acalmar
Levou um tiro no peito
Caiu no mesmo lugar
Sem ninguém poder dá jeito
 
Chamaram o seu Zé Bento
O coronel do lugar
Bravo como uma serpente
Apanhou tanto na cara
Que não ficou um só dente
 
O Neco veio curioso
Encostando-se à forquilha
Só viu a bala passar
Do revolver do seu Pedro
Ferindo a sua virilha
 
Logo chega a polícia
Aí foi que o pau quebrou
Deram tanta coronhada
Nos chamados valentões
Que o pagode acabou
 
Esqueceram-se das jovens
Que no quarto se esconderam
Se foram e fecharam a porta
No dia seguinte á tarde
Quase que estavam mortas
 
Foi proibido pela polícia então
Fazer samba sem licença
Em toda aquela região
Tem uma placa indicando
Que o cemitério é rua do valentão.

MARIA AGLAIDE NEVES
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