Num sombrio caminho sigo
Sem destino e sem companhia
Meu barco não tem direção
No mar bravio se desnorteia
Vejo apenas a triste solidão
 
Olho o céu de brancas nuvens
Sinto-o causticante a me queimar
Não há sequer um navegante
Que dá tormenta possa me livrar
Sei bem que sou solitária andante
 
Sigo por terra numa estrada árida
Meus pés ardem, na areia quente
Mais adiante subo uma ladeira
Canso-me e sento-me a olhar para traz
Vejo a distância nuvem de poeira...
 
Alguém vem ao meu encalço
Espero alegre aquela companhia
Bate feliz em meu peito o coração
Passam ás horas ninguém aparece
Foi ledo engano, apenas ilusão
 
Minha estrada sempre foi vazia
Vaguei ao léu em toda caminhada
Andei nos mares, nas matas e serras
Colhi flores murchas e desbotadas
Cambaleei como ébrio e caí por terra
 
Ninguém me veio oferecer o ombro
Meu pranto corria em forte enxurrada
Levantei-me dorida e alquebrada
Os anos se passaram, envelheci
Vejo que me segue a morte, às gargalhadas.
 

MARIA AGLAIDE NEVES
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