Se eu pudesse voltar ao passado
Desfazer o mal que me fizeram
Energicamente me defenderia
Batia o pé e lutava com afinco
E tanto mal não aconteceria
 
Aproveitaram minha inocência
Obrigaram-me a sofrer calada
Como Cristo ao calvário escoltada
Foi tirano e cruel o meu destino
Trago sinais das fortes chicotadas
 
Verdugos desalmados me feriram
Abriram-me chagas, meu corpo sangrara
Para o sepulcro me obrigaram a ir
Também me pregaram coroa de espinhos
Fazendo-me beber um amargo vinho
 
Muitas décadas já se passaram
Más a minha dor nunca passou
Trago comigo a triste lembrança
Do dia fatal que  a vida me tiraram
Indo com ela minha doce esperança
 
Submissa subi ao meu calvário
Como ovelha triste e desgarrada
Não encontrei quem me socorresse
Do atroz castigo que me foi traçado
Levaram-me a alma, antes que eu morresse
 
Feliz daquele que um dia amou
Que da ternura sentiu o prazer
E em seus lábios provou doces beijos
Trocando carícias e fieis enlevos
Saciando com ardor os seus desejos
 
Coitada de mim, pobre e indefesa
Quando atada me vi numa igreja
Ao lado um alguém que nunca amei
Para dizer o sim a um vigário
Sem falar uma palavra me entreguei
 
Meu destino foi cruel e traiçoeiro
Fazendo de mim infeliz criatura
Em quatro paredes, meu pranto rolei
Eu era criança inocente e pura
E até hoje a ninguém amei!

MARIA AGLAIDE NEVES
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