Corre, de braços abertos e dê-me um abraço!

Vem morte! Eu não a temo. Juro-te solene!

Nênia da escuridão e é o escuro de mistério tão perene

Que se afigura como o vácuo devorador de luz no espaço!

 

De que adianta o amor se ele não é correspondido?

De que adianta o amor se ele por vezes acaba?

Camélia a desfolhar-se, verso que começa e inacaba

E fica no olvido de um querer e de um sonho perdido?

 

Vem! Não se acovarde morte! Eu declaro guerra!

Por que eu teria medo de algo que é inevitável?

Anjos e demônios do oblívio eterno, terror inacabável

De pensamentos sem certezas presos à crenças da terra!

 

Só se vence o terror impondo um terror ainda maior!

O amor pode ser o alimento sublime da alma,

Mas também pode ser o veneno a corroer toda a calma,

Consoante o que não é perfeito, não o temos ou teremos de cor!

 

Vem morte... Quero pô-la em confronto comigo e meu antigo amor!

Brande tua foice... Mostra que és o espectro invencível!

Eu quero ter diante de meus olhos a tua paz e acalmar o que em mim é irascível.

Quero me esquecer de quem amei e do ódio por mim e todo o calor!

 

Gira em uma dança de cadáveres ambulantes; coleta mais um segredo!

Mate tudo o que senti, torne-me completo e me force ao sono eterno!

Há uma disputa entre o mortal e a morte, entre Éden e inferno...

Entre amor e a morte também... E quero vencer tudo isso pelo medo!