Eu peço, ela sorri, e nós seguimos
bem no meio dessa estrada infinita;
nossas sombras se esparramam no espaço
ermo e triste que com os pés ferimos.
Ela, como sempre, a flor mais bonita
que às margens de um ribeiro seu dulçor,
quando se agita derrama no escasso
recanto silente de encanto e cor.
Ao meu lado ela atravessa as poeiras
que sobre nós lança a rija rajada;
não se importa com as pedras, com nada
que lhe faça tropeçar, sentir dor!
Às vezes, pela magia uma fada
ela parece quando no ar flutua;
e tem nas suas formas forasteiras
o primor e a leveza da falua.
É minha cigana, minha andorinha
que essa viagem sem volta adotou!
Eu peço, ela sorri, e nós seguimos
na sorte que a tempo nos espezinha.
Juntos respiramos a liberdade
pela brisa vespertina exalada...
não conhecemos a treda saudade,
no olhar do outro p`ra sempre residentes.
Brincamos como infantes na serena
eternidade de nossa jornada;
lassos, sôfregos, sedentos, sozinhos,
talvez agora mais dois indigentes.
A esperança descansamos no amor
- nosso alento verdadeiro e profuso -
e libamos nestes castos carinhos
de sermos mais que amigos o esplendor.
Com a coragem de um viajor luso,
do astuto navegador a bravura,
dessa infinita estrada bem no meio
o que buscamos é a paz e a ventura.
Seguimos sem deixar a despedida
para trás seus ecos tristes forjar;
sem desaparecer nos horizontes,
nos muitos que haveremos de pilhar!
E as tempestades enfrentando juntos,
mais que dois irmãos nós também seremos!
Um dia à fresca sombra de um pomar
vamos lembrar sorrindo o que sofremos.
Eu peço, ela sorri, e nós seguimos
sem pressa para esculpir o destino,
porque nossos passos agora cruzam
o espaço singular que dividimos.
Ela é pequena como o colibri,
é delicada como o ramo esguio...
mais grandiosa que o universo inteiro,
ah! mais pujante que o touro bravio.
E nada pode despojar seu vulto,
mais uma vez ao meu lado sonhando;
ou lhe implantar o medo ou o receio
de avançar nesse caminho nefando.
Pois se enconde no escrínio de seu seio
o afã secreto de seguir além,
como se fosse seu divino culto
desfraldar esse inquieto sentimento.
Ah! Juro que não posso viver sem
seus beijos p`ra curar minhas feridas;
que até render-me o cruel passamento,
as nossas mãos sempre estarão unidas.
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