COISAS QUE EM MIM FAZIAM VIZINHANÇA

COISAS QUE EM MIM FAZIAM VIZINHANÇA (*)

A casa atrás da colina
A alfarrobeira na esquina
E pela frente um jardim
A cisterna e o eirado
O almanxar, o cercado
O cheirinho a alecrim

E a figura pequenina
Que vejo na neblina
Dum grande avô que se ria
Quando eu corria descalço
E caía num precalço
No meio da correria

O Leonildo, o Manel
O Chico e o Daniel
Esses amigos de infância
Riso, alegrias aos rodos
Que andávamos sempre todos
A brincar, numa constância

Minhas irmãs, os meus pais
Os nossos lindos Natais
Minha avó, sua alegria...
E aquela ideia presente
Que bailava cá na mente
De qu'rer ser "alguém" um dia


Tudo me lembro inda hoje
Na vida que tanto foge
Desse tempo de criança
Os sonhos que me nasciam
As coisas que me faziam
No coração, vizinhança

Tantas voltas que já dei...
Na vida por onde andei
Nos trilhos que se percorre
Amigos... tudo o que tive
Inda cá dentro me vive
E decerto nunca morre.


Joaquim Sustelo

(*) Mote dado pelo poeta José Fanha num dos nossos encontros.

Joaquim M. A. Sustelo
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