Quero trocar minha musa por um passeio solitário e inútil num parque de diversões,
desejo trocá-la especificamente pela derrotada roda gigante e através dela, ainda que sozinha e rachada ao meio,
espernear com minhas agoniadas lágrimas intempestivas.
Eu preciso livrá-la deste mal que me assombra,
afastar-me dessa árdua corrida, onde o vencedor, nem sequer existe.
Eu preciso mantê-la além, para muito além da roda gigante,
e eu envelhecerei aos pés dessa máquina ardilosa,
dentre suas ferrugens e pinturas desfiguradas pelo tempo,
estará minha pela culpada, estragada, vitima do recuo ineficaz que cometera.
Quero trocar minha coleção de ossos, de dentes, cadáveres,
e quero, meu amor, que você se esconda por detrás de quaisquer folhagens, que toda a cúpula do céu te ampare,
já que há todo um mar inflamado ao nosso redor.
Eu quero trocar as minhas últimas palavras,
por um gesto de amor dos teus punhos e lábios
e com isso desgraçar o nosso futuro juntas.
Eu receio não poder estar lá quando precisares de mim,
eu temo não ter a chance de compor meus últimos poemas,
de reunir todos os fragmentos perdidos
que declarariam caber a você qualquer modificação nesse plano inviável,
porém, aceito.

10/10/05, em casa.