não mais que isso


Talvez eu seja despeitada apenas, não mais que isso
Talvez a inveja é que me consome, não mais que isso
Não sou poeta, não sou essa carne que sangra.. e fere..
Talvez eu seja vento apenas, não tempestade, não mais que isso
Imperceptível, invisível, não mais que isso..
Talvez a jóia rara guardada pra mim, seja a falta em mim, que inflama meus olhos..
Talvez a dor que aqui se assenta e zomba de mim, seja o prêmio de tão pouco que sou..
Pequena em mim mesma.. em mim mesma me perco..
Destruo-me e me deixo, não mais que isso..
Talvez meu deleite seja  minha cama fria e vazia, não mais que isso..
E as músicas que me embalam..
Que me alegram, que me são cúmplices, que me dão colo... que me reconfortam e que me assolam..  
Não passam de amantes etéreos, não mais que isso..
Cuja melodia assombra a alma e a mente.. tortura o corpo, pela falta de te.. Amado Desconhecido.
Algumas faces você já teve.. ou apenas torci muito para que fosse, engano meu, não mais que isso..
Talvez o meu direito seja apenas de uma luz sem cheiro.. que leve a um abismo, não mais que isso..
Talvez a minha sorte, resume-se ao escuro do meu leito.. não mais que isso
Talvez, sorrir me seja tão caro.. tão raro, senão for por intermédio de outro..
Outro, que de tão importante torna o meu sorriso fácil e belo..
O prazer em mim mesmo é tosco, é fraco..
Talvez essa necessidade de compartilhar, não sirva mais pros cenários de outrora..
Essa necessidade de cuidar de te.. e permitir cuidar de mim.. tenha ficado ultrapassado...
Minha alma, minha amiga, não ama mais como poeta..
Por que o poeta, apesar de sofrer, acredita no amor... acredita no sonho... na espera..
Hoje, pra que eu sobreviva, não posso mais acreditar em nada..
Devo acreditar do que sai das minhas entranhas... do meu quarto escuro, não mais que isso
Quisera poder sorrir dos meus cacos, juntá-los em um novo mosaico..
Para recompor um outro eu.. sem vícios, sem memória, apenas isso..
Conformasse com o dia que nasce e com a noite que deita..
Olhar meus filhos sadios, e preencher-me de vida, não mais que isso..
O quão cruel eu sou meu Deus, por tamanha ingratidão!! O que mais posso querer??
Então, por que essa vontade enorme de gritar pelo mundo a fora...??
Por que essa vontade de nascer de novo..??
Essa vontade de que você me encontre e que torne meus dias mais leves...
Por que não me basto de agora em diante?
Facilitaria para as minhas solidões que se batem uma nas outras..
Deixando-me sozinha... vazia, na maioria das vezes...
Por que não há alguém que vai chegar.. que vai retornar.. que te espera em casa.. não há pra quem ligar..
Quem penso que sou? Capaz de seguir sozinha
Disseram-me que Bel Gama era uma farsa...
Como se ela camuflasse as meninas travessas guardadas em mim..
Se é uma farsa ou não... por agora ela se faz meu descanso..
E as meninas travessas cheias de alegrias.. tiveram que partir..
Levaram minhas camadas, os trens ilusórios, as galáxias... o chá e os torrões de açúcar..
Ficando apenas, o dia a dia e a solidão, não mais que isso..
 
 
 
 
 
 

 

" e nem assim se pode evitar.."
Bel Gama
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