Ouço seus passos pela escada quebrando o silêncio da madrugada fria, e sua mão buscando a maçaneta da porta que nunca mais foi fechada desde a ultima vez que saiu. Vejo seu corpo longo adentrar na escuridão da sala rumo a mim, como se já conhecesse o caminho, e em meio ao negro do meu quarto vejo seu sorriso branco iluminando um todo. E acordo por completo ao sentir seu cheiro e seus leves dedos tocar meu rosto.

E como um ser irracional você me devora o corpo, escravizando minha alma e me fazendo feliz. E antes do nascer do sol nem te vejo sair, só me deparo com um lado de cama vazio e meu corpo ainda quente, saciado pelo seu amor e um calor que ainda arde. E assim se vai dias, semanas sem um telefonema se quer, sem que pelo menos eu possa ligar, pois nada sei de você. Se já tem dona, se és livre demais ao ponto de ter voado longe e não sabe voltar.

 Fico aqui presa esperando alguém que não sei se volta ou mesmo se é real. Já não mais saio de casa a noite, pra não correr o risco que você apareça e por uma eventualidade não me encontre aqui. Presa de porta abertas.

Como pôde isso acontecer! Esse amor vampiro que me suga alma, que faz escrava, dependente, sem mesmo eu querer.

 Um amor vampiro que não resiste à luz do dia, que se obriga  partir ao ameaçar do sol. E assim se passam os dias e dias eu aqui esperando você.

Quando já decidida a me libertar, após violentamente eu ter me desacorrentado de suas lembranças, sigo rumo a porta e me deparo contigo. E vai por terra todo esforço meu.

 Como animal faminto, voltou pelo instinto, sentiu  cheiro de perda e não se dá o direito de me perder. E eu uma mera mortal escravizada por uma paixão que mata, mas que me faz viva. Fico aqui novamente a espreita de silêncios quebrados por passadas firmes e objetivas, por toques que machucam, mas que saciam, por beijos quentes que queimam, mas que na falta deles congelo.

Escrava de um amor vampiro que nem sei se é real, e já não sei se vivo sem esse, pois não sei se me causa mais bem ou se me causa mais mal.

Mônica Botelho
© Todos os direitos reservados