Striptease moral

Não importa que o mundo se choque,
que as pessoas evoquem
o santo protetor...
Benzam-se pasmas e indignadas,
invoquem os falsos valores
de uma ética desqualificada.

Não importa que de mim se afastem,
que as luzes se apaguem,
e o palco venha a ruir...
Da ribalta quero fugir.
Resgatar minha identidade
viver a autenticidade,
parar de fingir...

E se alguém se sentir ofendido,
não sabe quem sou, não sabe o que sinto,
moldada no que querem que eu seja,
atada pra que não ande nem veja...
“Tô nem aí pro que der e vier...”
Dane-se quem quiser...

Tiro as roupas que me sufocam
vincadas de normas, preceitos morais...
Faço striptease dos rótulos
“ mulher perfeita, efêmera, passiva, reta...”
estereótipo da fêmea correta...
Quero agora escandalizar.
Arranco as sandálias e avanço,
não me canso...
Pés descalços, alma nua,
a caminhar
em território profano,
sagrado,
insano...
e gritar...

Carmen Lúcia