Os amigos da aparência e do físico
São como o tronco carcomido
São como as folhas em setembro
Esfarelam-se e se espargem no vento.
Estas bizarras baratas bêbadas
São análogas ao bicho da seda
Pois, no novelo do falso contentamento,
Deterioram-se na linha do tempo.
Os amigos da luxuosa fortuna
Têm duração minuta
Feito fogo de palha
E arduamente nos custam
Os doridos olhos da cara.
Das bonitas palavras, os ditos amigos
Pesam à voz, aos ouvidos.
Pela frente, nosso nome, santificam;
Pelas costas, nosso caráter, crucificam
E nos deixam em repentinos perigos.
Os admiradores amigos do sucesso
Aplaudem-nos, vão aos convulsos delírios,
Suportam o peso máximo nos ombros
E pagam os caros ingressos.
Todavia, se percebem a queda,
Roubam-nos os óculos e o colírio,
Cremam nossos rastros nesta terra,
Na cegueira têm o fito de nos afanar o ouro,
Sobem em cima do muro
E nos atiram ascas pedras.
Os amigos do talento, da sabedoria
Ligam quase no fim da noite.
Desconhecem-nos na praça,
À luz dos dias,
Só pedem trabalhos, planilhas,
Só querem favores, favores.
Não sabem que o homem precisa
De um instante para a filha.
Não os sensibilizam o espaço para a mulher,
Abusam da alheia fé,
Zombam do ínfimo sinal da depressão,
Da saudade dos amores.
Contudo, bem que Deus tem razão
Ao lembrar-me que no mundo
Ainda há fiéis amigos
Ao nosso lado, na guerra e na paz,
Nas tardes tristes de inverno
E nas brancas noites de solidão.
E acendem o sentido da vida
Os verdadeiros amigos do coração.
Curitiba
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