O tempo estava sempre bom!
É assim que me lembro e me vem à ideia.
Do sol da primavera e das gentes da aldeia,
vestindo pano novo em dia de procissão.
Que era na véspera, porque no dia,
Domingo de Páscoa, havia compasso e mesa cheia
de comida de rico e ovos tingidos. Era uma alegria!
Os miúdos como eu, nesse dia
botavam sapato novo. Não havia pé descalço,
não fosse haver percalço
e lá se ia a festa, em dia de Aleluia!
No sábado, de giga na mão, íamos às bordas do ribeiro
buscar fetos e verdes frescos e depois do encalço,
cobrir as ruas onde o Compasso passa de pé ligeiro!
À frente, ia o senhor da campainha,
dlim, dlim, dlim, sempre em passo alargado.
Seguia-se o juíz da Cruz, risonho e suado!
O Padre, vinha a seu lado e dizia a ladainha,
quando entrava na sala do visitado.
E também sorria, ao ver o envelope esperado,
que o senhor da saca recolhia, encantado!
Os ricos, botavam foguetes à chegada do Compasso
e os pobres, sabiam se estava longe ou perto.
- Ouves? Está na casa do brasileiro Roberto,
não te afastes, fica por perto, enquanto faço
os ovos tingidos. - Só vou ali à tasca, matar
o bicho, dizia o meu pai, esperto.
E só vinha, quando a campainha ouvia tilintar!
Eu esperava ajoelhado, de calção
curto com suspensórios. Muito concentrado,
de mãos em prece, nem olhava para o lado,
e quando o tlintar ouvia, o meu coração
batia e todo eu tremia, por Cristo ir beijar!
De olhos fixos na porta aberta e olhar fascinado,
via Cristo entrar e sentia Nele, desejo de me abraçar!
Então, rapaz, como vai a escola?
Perguntava-me o senhor Abade. Pergunta de circunstância,
depois da ladainha. Tratava-se duma redundância,
pois sabia que ia bem. A minha mãe metia na sacola
o envelope, que não tinha grande volume.
- Fiquem na Paz do Senhor e aspergia com abundância
a água benta, conforme uso e costume!
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