Ah, se não fosses casada...

Ah, quem me dera não fosses casada
Com tão hostil, ríspido arruaceiro
Eu enfrentaria íngreme escalada
E - milagre! - me terias inteiro.

Dar-te-ia a mais fulgorosa estrela,
Clamaria versos para enlevá-la,
Fuzilaria os outros só pra tê-la
E sentir o olor que teu lume exala.

Jamais em ti eu pisaria atroz
Nem soltaria chamas pelas ventas
Verias um vulcão dentro de nós
De derreter até massas cinzentas.

Nova, te encheria com meu ardor
Num resplendor de beleza crescente
Prenhe, minguar-te-ia acolhedor
À míngua, começarias novamente...

Quando viesses nua, qual clarão
Amada, não fartaria de olhar...
Lua, se te separares do dragão,
São Jorge deixa a gente namorar?

Maria Paula Alvim Machado
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