Margarida e margaridas

Margarida e margaridas

Uma figura sinistra, simbólica,
Que ainda trago na memória
Que fez parte de minha história...
 
Metódico e irreverente, despojado e carente
Um sábio, um indolente, um infeliz, um demente
Lembrava Cristo, fisicamente,
Vestes rasgadas, cabelos longos, barba mal aparada
Ou quem sabe, um anti-Cristo,
Oscilando entre o normal e o descomunal
Às margens do convívio social.
 
Andava pelas ruas e calçadas,
Fazendo gestos, sempre balbuciando
Palavras distorcidas, sem nexo,
Aproximando-se das pessoas
Que corriam assustadas.
 
Sempre um buquê de margaridas
Alvas, brancas, cultivadas,
A todos ele ofertava (e se orgulhava)
Pois, por ele eram plantadas
Em terras baldias, abandonadas...
Flores por todos  ignoradas.
 
Havia momentos de agitações...
Delírios, alucinações, comoções...
Então ele era rei, poeta e compositor,
Erguia o cabo da vassoura e era imperador!
-Camisa de força para o louco, o agitador!
Ao som da sirene era levado a um abatedor ...
 
E num desses manicômios,
Tratamento de choque, fortalecer neurônios
Encontrou sua Margarida, sua amada, sua vida
E como loucos, amaram-se loucamente...
Amor que surpreendeu a muita gente
Pela doçura, pela brandura de dois doentes.
 
Porém um dia, não mais a encontrou,
Levaram-na dali, outro rumo tomou,
E transtornado pela dor, o louco chorou.
Não mais quis ser rei nem imperador.
Somente poeta pra cantar a sua dor...

Até que um dia para sempre se calou.
E numa cova fria, em pó se transformou
Ou foi ao encontro de seu amor...
Ao passar o tempo, viram lá nascer
Fazendo a cova triste resplandecer
Risonhas e brancas margaridas,
Vida, paixão e morte restabelecidas.

      Carmen Lúcia