" Sou a luz que cai nesta cancela, neste chão. Sou as estações, a lama, a bruma, a aurora."

" Sou a luz que cai nesta cancela, neste chão. Sou as estações, a lama, a bruma, a aurora."

“ (...) Mas quem sou eu, que me apoio nesta cancela e observo meu perdigueiro farejando num círculo? Às vezes penso ( ainda não fiz vinte anos) que  não sou uma mulher, mas a luz que cai nesta cancela, neste chão. Sou as estações, às vezes penso, janeiro, maio, novembro, a lama, a bruma, a aurora. Não posso ser jogada de um lado para o outro, ou circular gentilmente, ou me misturar com outras pessoas. Contudo, agora, apoiando-me aqui até a cancela marcar o meu braço, sinto o peso que formou no meu lado. Algo se formou na escola, na Suíça, alguma coisa dura. Não os suspiros e as risadas; nem as frases tortuosas e engenhosas; nem as comunicações estranhas de Rhoda quando olha à nossa frente. (...) O que dou é cruel. Não posso circular gentilmente, misturando-me com outras pessoas. Gosto mais do olhar dos pastores que encontro na estrada.”

 

Virginia Woolf – As Ondas

Eloisa Alves
© Todos os direitos reservados