"Mas só despertamos uma pessoa quando sabemos o que queremos lhe dizer. "

"Mas só despertamos uma pessoa quando sabemos o que queremos lhe dizer. "

“ (...) Tinha vontade de ir diretamente até ele e dizer: “ Sr. Carmichael!” Então ele olharia para cima, benevolentemente, como de costume, com seus vagos e turvos olhos verdes. Mas só despertamos uma pessoa quando sabemos o que queremos lhe dizer. E ela tinha vontade de dizer não uma coisa, mas tudo. Palavras soltas que interrompiam o pensamento e o desmembravam não diziam nada. “Sobre a vida, sobre a morte; sobre a Sra. Ramsay”- não, pensou ela, não se pode dizer nada a ninguém. A premência do momento sempre errava o alvo. As palavras saíam tortas e passavam dedos abaixo do objetivo. Então, desistimos; então, a ideia submerge novamente. (...) Pois como podíamos expressar em palavras essas emoções do corpo? Expressar aquele vazio ali? ( Ela estava observando os degraus que davam para a sala de estar; eles pareciam extraordinariamente vazios.) Era o sentimento de nosso corpo, não de nossa alma. As sensações físicas que acompanhavam a visão dos degraus despidos tinham, de repente, se tornado extremamente desagradáveis. Querer e não ter fazia com que subisse pelo seu corpo uma dureza, um oco, uma tensão. E, então, querer e não ter – querer e querer –, como isso apertava o coração, e apertava-o de novo e outra vez! – Oh, Sra. Ramsay! gritou ela silenciosamente.”


Virginia Woolf- Ao Farol

Eloisa Alves
© Todos os direitos reservados