Há um sentimento
Que é preso no peito
De todo detento
Do medo que há
Que pode assombrar
Todo contento
Por trás do cimento
Dos prédios cinzentos
Que tapam os ventos
Na beira do mar

Enquanto as sombras
Que cobrem as areias
Escondem as sereias
E as canções do luar
Ao rio desaguar
Os dejetos humanos
Desejos insanos
Que jorram aos montes
Cobrindo horizontes
Na beira do mar

Por todas as partes
Há pedras e cacos
Que tapam o espaço
Os terraços no ar
A quem pode comprar
E ribeirinhos cativos
Os velhos nativos
Que alimentam a cidade
Sem reciprocidade
Na beira do mar

A revolta das ondas
E da maresia
Não tardam sua ira
Da ira dos homens
Que a tudo consomem
Sem nunca parar
Nunca se fartar
À ferrugem sucumbem
E as águas ressurgem
Na beira do mar.