Os moleques corriam descalços pelos becos
Velozes como o vento, cortando as vielas
Sujas e traiçoeiras e repletas de arruaceiros,
Tão leais como cães, tão chacais quanto rabugentos.
Na vila dos ratos, na encosta do monte,
A lama se misturava ao cascalho das ruas,
Restos de detritos de animais e humanos,
Cimentavam com pedras a póvoa moribunda,
E nas ruas vadias e noites fecundas,
O velho ferreiro vertia o aço
Em longas espadas e armaduras
Tão fortes como a Terra, tão belas quanto o espaço.
Vinham de longe, nobres cavaleiros,
Em busca da arte do velho ferreiro,
Era metal vivo que percorria suas veias
Como as águas são aos rios, e os rios, às sereias.
Das entranhas da vila dos ratos
Para as terras dos reis do Norte,
Cavaleiros exibiam com orgulho
Suas espadas, brasões e escudos,
Nas casas do Sul, os arautos,
Imponentes e descrentes da sorte,
Galopavam cavalos enfeitados
Nos torneios das casas nobres,
Pelas mãos do ferreiro mais forte,
Que nas noites da efêmera aurora,
Na esquecida vila dos ratos,
Partiu o ferreiro à morte.
R. Lemos.
*A meu amigo, Mazola - † 2021.
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