Véspera da Certeza

Véspera da Certeza

Será que regressastes das trevas para mim?
Será eu, a Dama Noturna, a incógnita das tuas frustrações?
Como pesa sobre o meu peito este mais recente sentimento!
Regressas do inferno, maldito, para perturbares minhas noites,
A fim de fazê-las ainda mais inquietas.
Retornas ao teu Deus, infeliz,
Desgraças outra desgraçada!
Anjo demente, taciturno...
Antagonista da minha tragédia,
Dessa nossa vida pérfida e bela.
Serás verdadeiramente vós,
O Senhor dos lábios insubstituíveis, que venho eu,
Tanto procurado?
O Senhor das mãos infinitamente entrelaçadas as minhas?
O Senhor do brilho dos olhos inimitáveis?
Possuindo-me incessantemente com seus males benéficos...
Serão estas, loucas, trepidas e lancinantes palavras, desperdiçadas?
Danças tua língua dentro da minha – já tão desencantada e
Mórbida em seus anseios – boca.
Penetra teu veneno, com teus braços, no meu – já tão
Desiludido e seco – abraço.
Perfure com tua foice, nos meus – já tão arruinados e
Soluçantes – olhos.
Derrama teu charme, no meu corpo que se abre,
Enlaça com tuas garras as curvas insaciáveis que lhe cedem às volúpias...
Tornando viável o inviável,
Unindo-se a mim,
A aspereza e a delicadeza em comunhão.
Despejando teu gozo fértil,
Nos meus planos desfeitos, imperfeitos.

19/04/06