Talvez ser o que almejo
Não seja o que quero ser,
Talvez eu me embriague
Com certos palavreados
E em meio a tantos sons
Veja-me solteiro e arrimo...
 
Arrimo de toda a semântica,
Solteiro de todos os sentidos
Que os significados emprestam
Às construções apócrifas da vida,
Mas casado com sonhos prosaicos
Que edificam virtudes e fraudes...
 
Talvez eu seja a doce primavera
Que traz ao olfato o lume das flores,
Contudo fico ébrio diante do sol
Que me bronzeia total a inspiração
E quando da chegada do verão
O inverno já me desbotou a alma...
 
Talvez seja eu o vento que sopra
O uivo que me acaricia os tímpanos,
Todavia ando trôpego mediante brisas
Que carregam do outono folhas mortas
Assassinadas pela desfaçatez do tempo
Que deixa frio o estuário das horas...
 
Talvez seja eu o orvalho ainda úmido
Que molha perante a lua o amanhecer
Dos dias e o anoitecer das estrelas
Solteiras e cadentes que habitam os céus
E que, de repente, desposam as nuvens
Então carregadas com chuvas do amor!
 
 
 

 
DE  Ivan de Oliveira Melo

Ivan de Oliveira Melo
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