Algumas pessoas são chamadas de “Sem Noção” por cometerem deslizes que demonstram falta de habilidade em alguma coisa. Comportam-se como se estivessem fora de rota, num universo cultural diferente. A expressão “Sem Noção” – que escrevo com letra maiúscula por puro capricho -, passou a ter um sentido pejorativo, referindo-se àqueles que, de alguma forma, destoam do grupo. Existem vários “Sem Noção”. Alguns chegam a irritar, principalmente quando, numa reunião, discute-se um assunto importante e o “Sem Noção” fala coisas que não tem nada a haver, viaja na maionese e acaba descortinando o seu baixo QI. Mas há casos em que o “Sem Noção” parece ser o único que tem noção das coisas. Nessas horas eu me delicio, vendo o “Sem Noção” tomar as rédeas da situação, apontando caminhos inusitados e criativos. Conheço a história de uma mulher que agiu sem noção e conquistou minha simpatia. Uma “maluca beleza” de alto QI. A história foi contada em um púlpito presbiteriano e dava o exemplo de um pastor que era muito educado com suas ovelhas, mas que, em casa, agia de forma oposta. Maltratava a esposa e os filhos, demonstrando dupla personalidade. A esposa, fiel companheira, já não sabia mais o que fazer para que sua família tivesse harmonia; andava frustrada com a conduta do marido. Até que um dia, enrolou vários colchonetes, amarrou algumas panelas numa corda, arrumou os filhos e esperou a hora principal do culto de domingo, quando iria ser ministrada a Santa Ceia. A igreja estava lotada e isto era tudo o que ela queria. Quando o pastor atingiu o ápice do eloqüente sermão, a mulher entrou com os filhos pelo corredor da igreja, arrastando todas as panelas e provocando o tremendo alvoroço. Os membros da igreja arregalaram os olhos espantados e os diáconos não sabiam o que fazer para conter a mulher, pois, afinal, era a esposa do preletor. O pastor, estarrecido, perguntou, em alto som, o que estava acontecendo. Foi aí que a mulher respondeu que só queria o marido da igreja, pois o de casa agia de forma agressiva e aterradora, e que, a partir daquele dia, ela estava decidida a residir no templo. A mulher que parecia ”Sem Noção”, revelou o “Sem Noção” do marido. Com sua atitude, pregou um sermão melhor do que o dele, confirmando o versículo do livro de Tiago, capítulo dois, verso vinte e seis, que diz: “A fé sem obras é morta.”

Por Selma Nardacci

Selma Nardacci dos Reis
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