Entre sombras e clarões

Entre sombras e clarões

 Amanheço antes do amanhecer.
Surpreendo a manhã desfalecida,
arrebato o sol ainda dormente,
trago-os para dentro de mim.
Crio meu próprio dia, enfim.

 
O clarão a me percorrer
anuncia meu alvorecer,
distancia-me da noite que morre.
E me socorre.
Leva a escuridão que apavora
sem hora, sem tempo, sem lua.
 
Leva o medo, senhor do escuro,
fantasma a andar pela rua
quebrando sonhos, planeando agruras,
roubando o que poderia ter sido,
o que haveria de bonito,
o meu querer que é pouco,
meu canto, agora rouco.
 
Oculto entre as sombras
age se a vítima se assombra,
vilão das histórias interrompidas,
distorcidas, mal vividas,
vacilante ante o clarão.
 
Em mim o dia amanhece,
o sol acende minh’alma,
a alegria irriga meu dia,
o medo não mais nasceu.
A paz agora me acalma.
A escuridão morreu.
 
_Carmen Lúcia_