imagina seu peito te sufocando
como se nos pulmões enraizassem girassóis
que por não terem sua fonte de energia, roubam a vida da terra mãe que lhes abriga
são flores mesquinhas, mas que te cheiram bem quando o sol aparece
muito bem

imagina que seu encalço se emaranha por entre fios que há pouco te amarraram os pés
descuido seu, camarada, que no desencontro da razão, achou algo muito mais sublime
tanto que não notou a marionete que se tornou nas mãos de um destino lilás
ou cor de índigo, caso seu carma que te aguarda não esteja mais tão iludido

imagina sendo crucificado no coração em que você gostaria de estar
as mãos pregadas com pérolas e os pés de beijos
dói, camarada, mas como dói
e é tão boa essa dor, camarada, não é?
o coração te extirpa as costelas e a espinha para te dar uma outra base
muito mais maleável e sensível às quedas bruscas do chorar e da alegria
feita de ligas de alcaçuz e cromada com o suor que te escorre da sua doce agonia

está feita a cirurgia
está, você, feito de amor agora, camarada
sem reembolsos

Ariel R.
© Todos os direitos reservados