Era uma manta muito espessa e branca,
Que se diluía por todo o bairro.
Ouvia-se as cortinas das janelas
A correr em coro, para trás.
As janelas ficavam preenchidas,
Com os sorrisos e olhos cintilantes,
Esborrachados no vidro.
Todos atabalhoados e a andar com muita dificuldade
Os miúdos começavam a construir um boneco de neve.
Eu era tão boneco de neve em criança.
Se os meus pais não me chamassem para dentro,
Eu era capaz de lhe contar tudo o que sabia – ou ficava, ao menos a tentar.
E mesmo à noite,
Através da janela do meu quarto
Via-te espessa e espalmada,
Isso transmitia-me calma e pureza.
Naqueles tempos,
Queria ser construtor de bonecos de neve.
Sempre que construía um boneco,
Construía um protetor.
Eles protegiam-me por vontade própria,
Eu penso que ficavam em divida comigo por os ter construído,
E para a pagarem, protegiam-me.
Eu nunca conheci um inverno,
Daqueles que correm pelas veias do tempo,
Que me provocasse se não felicidade,
Só por causa da neve que trazia.