O outro eu
 
I
E por instantes a alma se fez escura
A brandura, a face pura, sucumbiu ao espectro do frio
O frescor exalante, a figura inebriante, o reduto de fulgor
Cedeu às cinzas do momento, ao pedido de silêncio
 
Luz findada na porção obscura do espaço
Imergiu do lado oculto do outro eu
Eu indeciso, indefinido, resguardado
Forçado a submergir          
 
Sustentado pelo medo intenso
Fiz-me escudo, fiz-me templo
Mas, não resisti.
 
Invadiu-me por completo
Um outro eu surgiu enfim
Tão forte, tão perto, dentro de mim
 
 
II
É tudo tão distante agora,
A vastidão de tudo se reduziu à pequenez do nada
Até aquelas flores, remanescentes dos dias primeiros, murcharam
Elas, que, guardiãs da felicidade do começo, estremeceram em face à agústia presente.
Sim, as flores também sentem.
A última pétala ainda resguardava o fragmento de uma esperança vindoura
Mas esta também sucumbiu à ausência
 
 
É tudo tão distante agora,
Até aquelas pinturas, que pareciam ser feitas da tinta do eterno, desbotaram
E, em um turbilhão de sentimentos arrastados à ordem da emoção, percebo que não mais sinto
A essência que me fazia sentir o mundo perdeu-se. Agora, apenas existo
Existo para completar um ciclo que me foi imposto, e o tempo, sempre inimigo, permanece em passar depressa.
Resignadamente, contemplo o restante dos dias, esperando que a extinção do meu existir...
 
 
 
 
 
 
 

Jonathas Emanuel Guimarães de Assis
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