De um soldado para outro:
As guerras não são nossas, mas o sangue derramado é.
Afinal, nós nunca começamos uma guerra, mas somos sempre nós que terminamos todas elas...
Cidade Adormecida
Não conhece essa empreitada,
a cidade que agora dorme,
e não vê o frio que invade o posto,
nem a chuva fina que cai no rosto,
encharca todo o uniforme
e escorre pela calçada.
Dorme Rio de Janeiro;
Que, guardando o teu sono fagueiro,
vela a Praça, empertigada.
Testemunhas dessa labuta
o bêbado e a prostituta,
companheiros da madrugada.
Pelas ruas e vielas,
praças, morros e favelas
te guardou com a própria vida
tateando no escuro
cruzou pontes, galgou muros
enquanto tu, adormecida,
Não ouvistes um só ruído,
Nem despertastes com o estampido
Do disparo da espingarda
não te assusta o som da morte,
Nem o odor que exala forte
Do sangue que mancha a farda.
Não te acordou o som do tiro,
Nem do ultimo suspiro
Do corpo que agora esfria
O companheiro jaz em prantos
mas é apenas um de tantos
que importância tu darias?
Não te comove a dor da viúva
Nem o vermelho que tinge a chuva
Que escorre pelo ralo
Nem o órfão te comove.
Até a noite chora... e chove
mas tu dormes sem abalo.
Dorme cidade maravilhosa,
desperta, bela e formosa
que o teu filho que partiu
foi um soldado que morreu,
"foi só mais um sol que nasceu
No céu imenso do Brasil".
(referência à Canção do Policial Militar: ...Em cada soldado tombado mais um sol que nasce no céu do Brasil...)