Naquela manhã caminhava apressadamente pelas ruas. Acordara fora do horário planejado, pois teria que estar presente em uma reunião com a Diretoria de sua Empresa. Para ganhar tempo, correu para atravessar a avenida antes que o sinal de trânsito fechasse para os pedestres.  No meio do percurso, em sentido contrário, uma mulher também resolveu atravessar. Houve um grande esbarrão entre ambos e a bolsa dela caiu. Abaixou-se e pegou-a, pois sentira-se culpado pelo fato ocorrido, tendo que voltar ao seu ponto de partida, pois o tráfego começou a fluir novamente.
       Meio desconcertado, pediu mil desculpas à ela que  logo foram aceitas. O sorriso e a simpatia daquela dama, fez com que ele se esquecesse de seu compromisso. Querendo vê-la novamente, não em pé no meio da rua, mas quem sabe, talvez, sentados em um restaurante ou em outro local mais tranquilo, onde pudessem conversar, se conhecer melhor, entregou-lhe seu cartão com o número do telefone, que ela aceitou prontamente. Cavalheiro do jeito que era, disse que se houvesse quebrado algo no interior de sua bolsa, que ela  ligasse para que ele reparasse seu prejuízo. Independente disso, ela prometeu telefonar no dia seguinte, mais precisamente na parte da noite.
         Assim, mal podia conter sua ansiedade para aguardar a ligação daquela mulher tão linda. Sua pressa era tamanha no dia anterior, que esqueceu de perguntar seu nome. Sentou-se no sofá, ouvindo lindas canções de Frank Sinatra. As horas foram passando e o telefone permanecia quieto, mudo, sem saber de seu sofrimento. Levantou-se, foi até a varanda, olhou para as luzes da cidade, que acesas pareciam uma grande Árvore de Natal. Cada minuto, cada segundo passados, aumentavam mais e mais sua angústia. De repente, ecoa o tilintar do aparelho. Feliz, atende rapidamente, mas do outro lado ouve uma voz dizendo que foi engano. O fone parecia pesar mais ainda ao ser colocado no gancho. Sua tristeza aumentara. Onde está você?  São 21:00 horas... Recosta-se novamente em seu sofá, fecha os olhos tentando vislumbrar o rosto daquela mulher: pele aveludada como pétalas de rosa, olhos brilhosos como a luz das estrelas, cabelos longos caídos sobre seus ombros, emolduravam sua linda face. O silêncio aumenta mais. Já não se ouvem as músicas de Frank Sinatra: levanta-se , retira e guarda o CD. Olha novamente para a cidade, cujas luzes permanecem acesas, porém as luzes de seu coração já não resplandecem mais. As esperanças parece que chegaram ao fim. Olha novamente para o seu telefone, que não sabe de seu tormento, não sabe, não avalia seu padecer. São 23:00 horas. Prepara-se para dormir... Onde está você?

Sonhador
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